Morri 14 vezes depois de velho
Morri 14 vezes depois de velho. O amanhã segurava-me com correntes de aço e aguçava-me os sentidos com farpas de madeira de pinho. Largou-me na auto-estrada que faz o trajecto daqui ali. Quão triste isso é? Lembro-me de pensar que nunca envelheceria. Seria jovem para sempre, quer notasses que eu existia, quer não. Bom, afinal enganei-me. Já devia ter desconfiado, pois não costumo acertar nas minhas previsões. Ser traído por aqui e por ali é previsível. É muito prevísivel. Mas nisso não tinha pensado, não. Ou talvez tivesse pensado e não tivesse querido acreditar, tanto que acabei por esquecer que essa era a hipótese mais provável. Envelheci depois disso. Envelheci consideravelmente. Os meus amigos já nem me reconheciam, vê lá tu. E depois morri. Uma e outra vez, e não conseguia parar. Da primeira vez que morri (e ainda me recordo vagamente - afinal, foi a primeira vez e as primeiras vezes não se esquecem), foi com uma facada nas costas. Irónico? Penso que não. Da segunda, o frasco de arroz caiu da estante e partiu-se na minha cabeça. Terceira? Inclinei-me demasiado da varanda e despenhei-me de um quinto andar. Depois morri num acidente de carro (bastante vulgar, percebes), depois cortei os pulsos (sem querer) com os relatórios da semana passada, depois enevenada com as ervas do jardim da Clementina (pelo menos não foi com frutos, hahaha!), depois o meu irmão apontou uma espingarda que estava carregada e matou-me. Da oitava vez, atiraram-me de um precipício. Nunca cheguei a saber quem era o culpado. Da nona, bebi água do mar, enlouqueci, e suicidei-me num manicómio. Décima, hum, o avião onde ia despenhou-se (splash! no oceano índico). Décima primeira foi a mais engraçada: escorreguei no tapete da casa de banho e bati com a cabeça na banheira. Por volta da décima segunda, já estava cansada. Mas ainda morri mais três vezes. Nesta, fui decapitada. Na décima terceira, foi ao acender a lareira que a minha casa pegou fogo. Da última vez que morri, penso que estava numa piscina. Não consigo lembrar-me bem do fim, ou melhor, pelo menos sei que morri outra vez, mas não sei os detalhes todos.
Morri 14 vezes depois de velho. O amanhã segurava-me com correntes de aço e aguçava-me os sentidos com farpas de madeira de pinho. Largou-me na auto-estrada que faz o trajecto daqui ali. Quão triste isso é? Lembro-me de pensar que nunca envelheceria. Seria jovem para sempre, quer notasses que eu existia, quer não. Bom, afinal enganei-me. Já devia ter desconfiado, pois não costumo acertar nas minhas previsões. Ser traído por aqui e por ali é previsível. É muito prevísivel. Mas nisso não tinha pensado, não. Ou talvez tivesse pensado e não tivesse querido acreditar, tanto que acabei por esquecer que essa era a hipótese mais provável. Envelheci depois disso. Envelheci consideravelmente. Os meus amigos já nem me reconheciam, vê lá tu. E depois morri. Uma e outra vez, e não conseguia parar. Da primeira vez que morri (e ainda me recordo vagamente - afinal, foi a primeira vez e as primeiras vezes não se esquecem), foi com uma facada nas costas. Irónico? Penso que não. Da segunda, o frasco de arroz caiu da estante e partiu-se na minha cabeça. Terceira? Inclinei-me demasiado da varanda e despenhei-me de um quinto andar. Depois morri num acidente de carro (bastante vulgar, percebes), depois cortei os pulsos (sem querer) com os relatórios da semana passada, depois enevenada com as ervas do jardim da Clementina (pelo menos não foi com frutos, hahaha!), depois o meu irmão apontou uma espingarda que estava carregada e matou-me. Da oitava vez, atiraram-me de um precipício. Nunca cheguei a saber quem era o culpado. Da nona, bebi água do mar, enlouqueci, e suicidei-me num manicómio. Décima, hum, o avião onde ia despenhou-se (splash! no oceano índico). Décima primeira foi a mais engraçada: escorreguei no tapete da casa de banho e bati com a cabeça na banheira. Por volta da décima segunda, já estava cansada. Mas ainda morri mais três vezes. Nesta, fui decapitada. Na décima terceira, foi ao acender a lareira que a minha casa pegou fogo. Da última vez que morri, penso que estava numa piscina. Não consigo lembrar-me bem do fim, ou melhor, pelo menos sei que morri outra vez, mas não sei os detalhes todos.
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