One face among the many, I never thought you cared.

And I don't know, this could break my heart or save me


Escusado era dizer que odiava hospitais. Quem não odiaria?
Andou pelos corredores gelados a procurar o número da porta que não parava de repetir para si mesma. Tinha de se concentrar. Uma tonelada de emoções percorria-lhe as veias a uma velocidade alucinante. Estava assustadíssima e com uma vontade enorme de chorar, mas prometeu controlar-se. Quando deu com ela, sentiu-se de repente covarde demais para entrar. Olhou pelo vidro interior grosso e baço, e conseguiu ver o seu vulto estendido na cama. Arrepios por todo o corpo. Não sabia se era capaz de aguentar aquilo.


Fez espaço na cama dela para se sentar. Sentiu os lençóis ásperos de hospital e, antes de a olhar, observou o quarto – frio, impessoal, triste. Finalmente conseguiu vê-la, não sem antes fechar os olhos para ganhar força. E assim o seu coração disparou.
Não era só o facto de a ver doente, pálida e magra, que lhe provocara um aperto no estômago e dores por toda a parte. Nunca a tinha visto tão frágil e fraca como agora. Era, de certa forma, como ver alguém que para nós era sempre forte e saudável, e subitamente vê-la no seu pior estado.
A enfermeira tinha-lhe dito que ela deveria estar a sair do sono da anestesia a qualquer momento, e deixara Elisa entrar. Dissera-lhe, também, que agora era preciso esperar e ver a reacção que iria ter após a operação. Mas ela vai ficar bem, certo? Esperemos que sim, afirmou a enfermeira gorducha, encolhendo os ombros e mostrando um sorriso apagado.
Elisa viu a sua mão e pegou nela. Instintivamente, levou-a ao peito e pressionou-a contra si, beijando-a em seguida, sentindo-se absurdamente aliviada por conseguir sentir que estava quente, e não à temperatura do quarto.
Estava pronta a chorar. Sentia as pestanas coladas umas às outras do sono leve que tivera durante a tarde, cheio de pesadelos que a faziam acordar de dez em dez minutos. Não conseguia fixar nenhum ponto. Estava em desequilíbrio. Abriu a boca para falar e a partir daí as palavras deixaram de ter sentido e fluíram sem rumo, à procura de respostas que nem sabia se existiam ou se as perguntas dela eram completamente retóricas.

Vai ter de ficar bem. Eu sei que vai ficar, é uma lutadora. Sempre lutou por tudo e mais alguma coisa. Sempre conseguiu atingir os seus objectivos. Estava a sussurrar. Não queria perturbá-la, mas desejava que a ouvisse. Tem um coração enorme, entrega-se a todos os seus projectos com paixão… por isso tem de continuar a ser assim! Não se pode deixar ir abaixo… Eu sei que está cansada, sei mesmo! Lembra-se quando eu lhe pedia para parar? Para abrandar o seu ritmo de vida? Oh minha querida professora, porque não me ouviu? Eu sei que não significava tanto assim para que me desse ouvidos, e de certeza que outras pessoas lhe disseram isto, e se elas não conseguiram, porque acharia eu que me iria ouvir? Mas não quero recriminá-la, não, odiaria que me fizessem isso. Mas quero que fique bem, por favor! Por favor, eu amo-a tanto, tanto, tanto. Ninguém conhece a dimensão deste amor, talvez alguns entendam, mas não o sentem com a intensidade que eu sinto, porque é demasiado puro e profundo para que outro alguém consiga entendê-lo



Tinha o coração esmagado. Apertava-lhe a mão e os dedos com cuidado. A voz subiu de tom quando as lágrimas começaram a abafar-lhe as palavras.



Professora, por favor, sabia que tem o nome mais bonito do mundo? Tem sim, eu adoro-o! Aliás, é uma pessoa incrível, nem imagina o quanto a venero, o quanto a amo! Quantas vezes tentei dizer-lhe isso, há tantos anos, e não queria ouvir-me dizê-lo? Pois agora quero que me ouça… se ao menos pudesse ouvir-me! Preciso tanto de si… tanto, tanto… o meu amor por si nunca se esgotará, acredite, se não se esgotou até agora, nunca se esgotará! Sempre lhe disse que era como se fosse uma mãe para mim, e talvez não fosse assim porque eu adoro a minha também e porque seria impossível, mas o sentimento é comparável a esse, sim! Se ao menos pudesse ouvir-me…



Fechou os olhos e chorou durante um tempo indeterminado. Foi então que sentiu a mão dela apertar a sua.


- Eu sei, querida.

1 comentário:

Paulo disse...

lindo mesmo, e juntamente com a música...sublime totalmente! :)

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