One face among the many, I never thought you cared.

AGULHAS (...)


« O dia está mesmo a chegar. Já o sinto. Esqueci-me de fechar as persianas. E assim me levanto para as ir fechar. Não está frio nem calor. Não há nada que faça sentido. Não há uma única ponta por onde possa pegar que me ligue a algum lado. »



- Sossego. Um sossego tremendo. Nem uma voz, nem um som, silêncio puro, silêncio de que nada espera. "Freezed in time". Congelada no tempo. Nada de protecções, tudo exposto, a alma, o corpo. Sem dramatismos. Sem euforia. Sem desilusão. Sem paixão. Frio. Ausência de sensação. Aqui, no peito, no coração, nas pernas, nas mãos. Só o estômago reclama das bebidas misturadas. Ele não aguenta isto e aquilo, aguenta as bebidas talvez, mas não isto, isto, isto. Isto. Precisa de sossego, quer dormir em paz. Não pode. A cabeça está demasiado ocupada.

- O sol chega. O céu é demasiado azul. Ainda assim, uma hora depois de as ter fechado, volta a abri-las, enchendo o quarto vazio, que continua vazio. Lençóis enrolados no corpo. Ausência de sensação de abandono. Ausência de sensações. Banho quente, a ferver. Roupa para lavar, toda, não sobrou uma peça para recordar. Teriam ido todas para o lixo, se assim pudesse ser. Imundas. Demasiado imundas. Por dentro e por fora. Debaixo e por cima da pele.

- Supermercado. Poucas pessoas. Cheiros conhecidos. Cheiros comuns. Cheiros banais. Café sem açúcar. Café a sério. Luzes de halogénio. Chuva. Chove outra vez. Jamais me incomodará. Forças (quem me dera tê-las).




« (...) mas não era amor. Não eram músicas romanticas. Nunca foram. Talvez um dia a cabeça quis que fossem. Mas o coração não amava. Nunca amou. Sentiu-se livre. Quis o que queria. Não precisa de mais nada. Eras tu, outra vez, (nunca) meu amor. »






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