One face among the many, I never thought you cared.

[.] IN A SKY FULL OF PEOPLE

Maria tem agora 19 anos, não mudou de nome porque uma série de desconhecidos lhe disseram que era um nome bonito, tem um vestido vermelho, na maior parte das vezes não se ri e não se condena a instintos comuns. Vive num pequeno apartamento antigo à beira rio, à noite sai para a rua e escreve às escuras, de dia trabalha numa loja onde se tiram fotocópias. Raramente bebe café; a vida roubou-lhe o sono há muito. Continua a amar a única pessoa que realmente amou na vida. Tem um piano de madeira gasto encostado a uma das paredes amarelecidas da casa. Não tem fotografias nem molduras para as pôr e o seu melhor amigo é um velho que partilha o mesmo banco de jardim por volta das duas da manhã. Nunca lhe falou, mas conhece-o melhor do que ninguém. Ele também a conhece, melhor que ninguém. Sabe que o seu nome é Maria e também sabe que Maria em tempos chorou, mas hoje já não o faz. Conhece os seus três casacos, o azul claro e os dois castanhos. Conhece o seu cabelo, geralmente solto pelas costas, ondulado e fraco.


Maria não vive isolada da sociedade. Por vezes vai sair, com o seu vestido vermelho, e senta-se num canto. Não conhece músicas actuais. Gasta o seu dinheiro todo em cd’s dos anos 80 e em canções francesas e italianas. De vez em quando recorda-se de algumas pessoas que conheceu na sua vida passada. Não sofre por elas. Na verdade, Maria não sofre por nada. Aprendeu a viver feliz, em toda a sua solidão. Todo o seu coração é preenchido pelo seu próprio sorriso, com seu próprio bater. Maria aprendeu a chorar pelo sofrimento dos outros e, com isso, perdeu as razões para se martirizar. Maria está sentada no parapeito da sua janela, do alto do quarto andar, a escrevinhar no seu bloco de notas. Está a juntar dinheiro para partir para outro sítio. Todos os recantos já foram descritos, observados, apreciados.

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