One face among the many, I never thought you cared.

YOU'LL WEAR THAT SHOES AND I'LL WEAR THAT DRESS


- Lembras-te daquele dia?
- Quem és?
- Fiz-te uma pergunta primeiro.
- Como hei-de saber o dia a que te referes se não te conheço?
- Responde-me. Depois podes perguntar-me o que quiseres.
- Mas não sei o que te responder.
- Era tudo tão bonito... as flores... lembras-te quais eram?
- Rosas?
- Margaridas. Eram lindas, brancas. Estavam por toda a parte... oh.
- Que tens?
- Lembrei-me da chuva. E da pergunta que me fizeste.
- Que pergunta?
- Eu disse que estava a chover. Tu disseste que não conseguias ouvir o barulho das gotas a cairem.
- E tu?
- Não te lembras?
- Não.
- Disse-te que as folhas não fazem barulho quando caem. Choviam, as folhas.
- Se caíam... não estávamos na Primavera? As margaridas?
- Era tudo tão belo. Lembras-te do meu guarda-sol?
- Era branco?
- Era vermelho. Vermelho doce. Compraste-me algodão doce também.
- Era de morango?
- Sim!
- Comprei-te mais alguma coisa?
- Compraste. Um gelado de chocolate. Enquanto dançavamos na rua, o algodão doce caiu. -
Oh, caiu?
- Sim. Eu chorei como uma criança, mas tu abraçaste-me.
- Abracei-te?
- Desta forma, queres ver?

(ela abraça o desconhecido)

- E depois disseste que me davas um gelado.
- De chocolate?
- Eu queria de baunilha. Mas não havia.
- Então dei-te um de chocolate.
- Sim.
- Era bom?
- Não melhor do que tu.
- Espera aí... eu nem te conheço !
- Estás a conhecer-me.
- Tu falas do nosso passado...
- Estou a construir o nosso passado para te conhecer melhor agora.
- Sabes que isso não faz sentido nenhum. Quantos anos tens? Quinze?
- Tem alguma importância?
- Tem sim.
- Tenho dezassete.
- Somos incompatíveis. Tenho vinte e cinco anos.
- Perfeito! Se juntares dois mais cinco dá 7. Junta-se dez anos e dá a minha idade. Em dez anos, vamos estar casados.
- Não podes estar a falar a sério!...
- Porque dizes isso? Porque me estou a rir? Estou-me sempre a rir !
- Vai para casa. É tarde... de certeza que andam à tua procura.
- De certeza que não andam.
- Como sabes?
- Nunca andam. Toma, quero que fiques com esta pulseira.
- Para quê?
- Para eu saber sempre quem és. Para saber que já estive a reviver o passado contigo.
- Se eu não tiver com a pulseira, não me vais reconhecer?
- Claro que não!
- ?
- Com tantos passados que já tive, como esperas que te reconheça?
- Fazes isto muitas vezes?
- Neste momento, só o faço contigo.
- És louca.
- Porquê?
- Não me conheces e falas de 'nós'... isso nunca aconteceu !...
- Está a acontecer.
- ...
- Beija-me.
- O quê?
- Beija-me.
- Como é que achas que vou fazer isso?
- Ora... não me digas que nunca beijaste ninguém!
- Claro que sim. Mas nunca beijei uma desconhecida.
- Lá vais tu... Já temos um passado, porque continuas a dizer que não nos conhecemos?
- Um passado que se resume a um jardim onde chovem folhas?...
- Não é lindo?
- Não te vou beijar.
- Vais sim.
- Pronto...

(o desconhecido beija-a na testa)

- Não, assim não!
- Não achas que estás a pedir demais? E se eu fosse um louco e te raptasse agora?
- Ohh.. seria uma bela aventura!
- Sem comentários...
- Vá, beija-me.
- Não!
- Ok. Tens toda a razão. Posso abraçar-te então?
- Não!

(ela abraça o desconhecido)

- Agora já posso dizer 'amo-te'.
- Diz lá então...
- Amo-te! Agora é a tua vez.
- Se eu disser, vais-te embora?
- Sim. Teria algum motivo para ficar?
- ! - Diz lá.
- Amo-te...
- Com convicção!
- Amo-te! Está bem assim?
- Sim!
- E agora? Vais-te embora?
- Vou. Obrigada!
- Espera... não queres saber o meu nome?...
- Tenho a pulseira. Se quiser encontrar-te, encontro-te. Mas não será necessário.
- Nunca mais nos vamos ver?
- Acho que não.
- Andas a treinar para ser actriz ou coisa parecida?
- Não.
- Então porque fazes isto às pessoas?
- Sabe tão bem!
- Espera, não me disseste quem és...
- Sou aquela que pinta o céu de cor-de-rosa e vê as estrelas durante o dia.

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